Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 26 de abril de 2024

PESSOA, CUNHA E GAGEIRO



Para adorar a beleza
E a liberdade amar
Fez Deus Portugal tão belo,
Pôs-nos Deus à beira-mar
(Só aprendemos a sonhar).
Sofra um só deve ser pública
Toda a dor (...) da opressão
Vamos, morte (?] ou república,
Suprimir [?] a revolução.
Fernando Pessoa

 



Fotos de Alfredo Cunha e Eduardo Gageiro


Mário de Sá-Carneiro - Neste dia, há 108 anos, morria em Paris com 25 anos de idade




Mário de Sá-Carneiro
Há 108 anos, no dia 26 de Abril de 1916, morre em Paris, com 25 anos, este poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d'Orpheu.

Nasceu a 19 de maio de 1890, na Rua da Conceição, 92, 3.º andar, na Baixa de Lisboa — então na freguesia de São Julião, mais tarde anexada à freguesia de São Nicolau — no seio de uma abastada família, sendo filho e neto de militares.

 

O seu pai era Carlos Augusto de Sá-Carneiro, e a sua mãe Águeda Maria de Sousa Peres Marinello, ambos naturais de Lisboa.

 

 Órfão de mãe com apenas dois anos (1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para a Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, às portas de Lisboa, aí passando grande parte da infância.

Começa a escrever poesia aos 12 anos, sendo que aos 15 já traduzia Victor Hugo e com 16 Goethe e Schiller.

 

No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como ator.

 

Em 1911, com 21 anos, vai para Coimbra, onde se matrícula na Faculdade de Direito, mas não conclui sequer o primeiro ano.

Desiludido com a “cidade dos estudantes”, segue para Paris a fim de prosseguir os estudos superiores, com o auxílio financeiro do pai.

 

Cedo, porém, deixou de frequentar as aulas na Sorbonne, dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espetáculo, chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que culminou na ligação emocional a uma prostituta, a fim de combater as suas frustrações e desesperos.

Sá-Carneiro conhecera em 1912 aquele que foi, sem dúvida, o seu melhor amigo: Fernando Pessoa.

 

Já na capital francesa viria a conhecer Guilherme de Santa-Rita (Santa-Rita Pintor).

Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste ambiente que compôs grande parte da sua obra poética e a correspondência com o seu confidente Fernando Pessoa; é, pois, entre 1912 e 1916 (o ano da sua morte), que se inscreve a sua fugaz — e no entanto assaz profícua — carreira literária.

 

Entre 1913 e 1914 Mário Sá-Carneiro viaja para Lisboa com uma certa regularidade, regressando à capital, devido à deflagração do conflito entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, o qual a breve trecho se tornou uma conflagração à escala europeia — a Primeira Guerra Mundial.

Com Fernando Pessoa e ainda Almada Negreiros integrou o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelo cosmopolitismo e pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista literária Orpheu, editada por António Ferro (e que por isso mesmo ficou sendo conhecido como a Geração d’Orpheu ou Grupo d’Orpheu), um verdadeiro escândalo literário à época, motivo pelo qual apenas saíram dois números (Março e Junho de 1915; o terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo da chacota social) — ainda que hoje seja, reconhecidamente, um dos marcos da história da literatura portuguesa, responsável pela agitação do meio cultural português, bem como pela introdução do Modernismo em Portugal.

Também teve colaboração em diversas publicações periódicas, nomeadamente no semanário Azulejos (1907–1909); na II série da revista Alma nova (1915–1918) e na revista Contemporânea (1915–1926), e pode ainda encontrar-se colaboração da sua autoria, publicada postumamente, na revista Pirâmide (1959–1960) e Sudoeste (1935).

Em Julho de 1915 regressa a Paris, escrevendo a Pessoa cartas de uma crescente angústia, das quais ressalta não apenas a imagem lancinante de um homem perdido no "labirinto de si próprio", mas também a evolução e maturidade do processo de escrita de Sá-Carneiro.

Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro, perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina.

Embora tivesse adiado por alguns dias o dramático desfecho da sua vida, numa "carta de despedida" para Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro revela as suas razões para se suicidar:

Paris - 31 Março 1916

Meu Querido Amigo.

A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual — mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas "cartas de despedida"... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis — e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias — ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade — numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra — vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas: mas não tenho dinheiro. [...]

Mário de Sá-Carneiro,

carta para Fernando Pessoa.




 

TAPETES DE ARROIOLOS



 

A origem dos tapetes de arraiolos é incerta, mas estudos indicam que a tradição começou por volta do século XVII, quando tapeteiros muçulmanos foram expulsos de Lisboa pelo rei D. Manuel.
Eles teriam se instalado em Arraiolos e continuado no exercício de suas profissões, prosperando na cidade e passando a técnica.
A tradição acabou pegando força nas mãos das bordadeiras, que passaram a técnica de mãe para filha e até hoje trabalham tecendo à mão.
As produções são feitas tanto em pequenas fábricas como em casa mesmo, pelas famílias tradicionais.
É possível comprar os tapetes já prontos ou fazer encomendas.
Os vendedores também costumam oferecer serviços de reparos, restauros e limpeza dos tapetes, que precisam ser cuidados com muito carinho, afinal, são séculos de tradição!
Apesar da técnica ter sido passada de geração em geração, infelizmente hoje em dia são poucas as mulheres que trabalham ainda com os bordados.
A referência escrita mais antiga feita a um tapete de Arraiolos encontra-se no Arquivo Municipal de Arraiolos e data de 1598.
Refere o inventário de Catarina Rodrigues, mulher de João Lourenço, lavrador e morador na herdade de Bolelos, termo de Arraiolos: “hum tapete da tera novo avalliado em dous mill Reis “.
Os tapetes possuíam cores em grande número, para a produção das quais seria necessária uma oficina tintureira.
Os contornos eram bordados a ponto de pé de flor sobre serapilheira.
Eram cheios a ponto de Arraiolos mais ou menos perfeito.
A barra era feita sem cantos, pois estes eram feitos num quadrado.
A franja era feita com agulhas de croché.
Nesta época executavam-se tapetes «eruditos» com desenhos preconcebidos muito perfeitos e outros «populares», que eram feitos de forma livre.
Os tapetes desta época baseiam-se em tapetes asiáticos (persas, caucasianos, turcos) ou inspirados nos motivos do manuelino.
As cores são magníficas, alegres e muito bem combinadas.
Os de inspiração persa caracterizam-se por motivos de animais, arabescos muito elegantes presos uns aos outros com sarnentos, medalhões repetitivos, motivos manuelinos com rosetas nós estilizados e cordas.
As franjas passaram a ser feitas em pequenos teares.
Os contornos começam a deixar de ser em ponto de pé de flor, passando a ser em ponto de arraiolos.
Neste período os tapetes de Arraiolos, embora fossem de carácter erudito e continuassem a ser executados com motivos orientais como anteriormente, deixam de ser feitos em cores alegres passando a cores mortas, inexplicavelmente, pois não se identificam motivos para isso.
Os cantos são a direito.
Hoje em dia podemos encontrar imitações feitas na China.
Cópias grosseiras e sem qualidade.
(Foto de Artur Pastor, anos 50)

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Diogo Freire – O Menino do Cravo de Abril


A imagem do fotógrafo Sérgio Guimarães do menino do cravo na G3 é um dos ícones do 25 de Abril de 1974.
O que é feito de Diogo, a criança que calou a arma com a flor símbolo da liberdade?
Há 50 anos, Diogo, o menino do cravo na metralhadora G3, tornava-se num dos símbolos do 25 de Abril.
A imagem da criança de três anos de caracóis louros, esticada, a silenciar com a flor símbolo da liberdade a arma da repressão foi registada por Sérgio Guimarães, falecido em 1986.
Fotógrafo sobretudo de publicidade, cuja experiência o levou a criar este poster icónico, haveria de imortalizar este e outros momentos em livros como As Paredes da Revolução, Diário de uma Revolução e O 25 de Abril Visto Pelas Crianças, onde pode encontrar-se Diogo Bandeira Freire (filho de Pedro Bandeira Freire, ex-proprietário do cinema Quarteto, em Lisboa), o menino da Revolução, hoje com 53 anos.


 




Celeste Caeiro - A Mulher do Cravo do 25 de Abril



 Celeste Caeiro

A mulher que fez do cravo o símbolo do 25 de Abril de 1974.
Em 1974 Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara no Chiado, com a mãe e com a filha.
Trabalhava na rua Braamcamp, na limpeza do restaurante Franjinhas, que abrira um ano antes.
O dia de inauguração fora precisamente o 25 de Abril de 1973.
O gerente queria comemorar o primeiro aniversário do restaurante oferecendo cravos à clientela.
Tinha comprado cravos vermelhos e tinha-os no restaurante, quando soube pela rádio que estava na rua uma revolução.
Mandou embora toda a gente e acrescentou: "Levem as flores para casa, é escusado ficarem aqui a murchar".
Celeste foi então de Metro até ao Rossio e aí recorda ter visto os "chaimites" e ter perguntado a um soldado o que era aquilo.
O soldado, que já lá estava desde muito cedo, pediu-lhe um cigarro e Celeste, que não fumava, só pôde oferecer-lhe um cravo.
O soldado logo colocou o cravo no cano da espingarda.
O gesto foi visto e imitado.
No caminho, a pé, para o Largo do Carmo, Celeste foi oferecendo cravos e os soldados foram colocando esses cravos em mais canos de mais espingardas.
(Fonte: RTP)

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"Horta do Zorate" é um blogue pessoal, editado por Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo, fazedor desencostado, em autoconstrução desde 1958.