Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Passei por 'ALFOBRE de Letras' e trouxe de lá estas Letras e Imagens...

BERNARDO SOARES [semi-heterónimo de Fernando Pessoa]

(Detalhe de escultura em betão, da autoria do artista plástico António Seco)


Bernardo Soares, o semi-heterónimo de Fernando Pessoa, é ajudante de Guarda-livros na cidade de Lisboa, escreve sem encadeamento narrativo claro, sem factos propriamente ditos e sem noção de tempo definida.

Foi nesta Obra que Fernando Pessoa mais se aproximou do género romance. Sob aquele nome, escreveu os 'Fragmentos' mais tarde reunidos em "O Livro do Desassossego", do qual transcrevo este excerto:

" Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é - creio bem - uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa.
(...)
Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais, e contudo pensar.
(...)
Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso."

Com o devido respeito pela memória desta insigne figura da Literatura portuguesa, na minha qualidade de seu ex-vizinho - morámos na mesma rua muito embora em épocas diferentes -, vou , sem o desfeitear, citar um Poema dele (de 1933), que "contraria" esta falta de " jeito" para o verso:



« I S T O »

Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério de que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Obra composta por Bernardo Soares



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"Horta do Zorate" é um blogue pessoal, editado por Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo, fazedor desencostado, em autoconstrução desde 1958.