Destas mãos que falam, saem gritos d'alma, gemidos de dor, às vezes, letras com amor, pedaços da vida, por vezes sofrida, d'um quase iletrado escritor. Saem inquietações, também provocações, com sabor, a laranjas ou limões. Destas mãos que falam, saem letras perdidas, revoltas não contidas, contra opressões, das nossas vidas! (Alberto João)

terça-feira, 26 de abril de 2011

"Alberto, você me parece um cara inteligente. Mas há uma coisa que não consigo entender: porque é que você fuma?"


Esta pergunta foi-me dirigida em 1992 por um simpático taxista que me transportou do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão (agora António Carlos Jobim) para o Copacabana Palace, na zona sul do Rio.




Quando entrei no táxi perguntei ao condutor se podia fumar. Com um sorriso nos lábios, e trabalhando para a caixinha (gratificação/gorjeta), aquele prontamente me respondeu: "Amigo, a partir do momento que você entrou no táxi, ele é seu. Quem manda aqui, agora é você!"

Gostei da simpatia, puxei por um puro e comecei a degustá-lo enquanto ia matando saudades da paisagem carioca. Havia já dois anos que ali não ia.

Nos 30/40 minutos que durou a viagem, falei com o simpático taxista sobre o calor imenso que estava naquele dia, sobre a cotação do dólar, falta de segurança, etc...

Prestes a chegar a Copacabana, ali nas imediações do Canecão - já o taxista sabia o meu nome e eu o dele - após alguns momentos de silêncio, sou surpreendido com esta pergunta do meu amigo Edson: "Alberto, você me parece um cara inteligente. Mas há uma coisa que não consigo entender: porque é que você fuma?"

Reagi com uma espontânea gargalhada e, sinceramente, já não me lembro o que lhe respondi.

Entretanto, chegados ao Palace, isso lembro-me bem, gratifiquei-o consideravelmente. Lembro-me de ele ter ficado 'hipnotizado' a olhar para as 'verdinhas' (dólares), e de me ter dito: "Mas...Alberto, eu não ganho este dinheiro numa semana a trabalhar". Dei-lhe uma palmadinha nas costas e despedi-me dele como se fosse um grande amigo.

Após a instalação no hotel, estava eu a deliciar-me com um soberbo duche, quando de repente se fez luz na minha cabeça: "Ai que aquele filho da mãe chamou-me burro e eu gratifiquei-o que nem um Lord"

Passaram quase 20 anos. Deixei de fumar há quase 2 anos. Gostaria de um dia voltar a ver o meu amigo Edson. O tal taxista que, não obstante o seu papel de beneficiador de uma eventual gratificação, não hesitou em 'chamar (com classe) o boi pelo nome', salvo seja!

Obrigado, Edson!


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"Horta do Zorate" é um blogue pessoal, editado por Alberto João (Catujaleno), cidadão do mundo, fazedor desencostado, em autoconstrução desde 1958.